- Refletindo sobre as discussões realizadas no fórum de Marx e Mészáros, gostaria de destacar alguns pontos que mais me chamaram a atenção, tanto nas leituras quanto nas discussões no fórum.
- Primeiramente, no texto de Bonilha, percebe-se que Marx tem um foco extremamente antropológico, tendo o homem como foco essencial em suas colocações, colocando o tempo como condição essencial para o desenvolvimento humano – do homem – educação como condição ao desenvolvimento do ser humano e, portanto, do homem.
- Em relação ao tempo, concordo plenamente que há uma vinculação direta entre a necessidade do tempo e o desenvolvimento humano, pois não há como refletir se todo o nosso tempo estiver comprometido com o trabalho. Um bom exemplo disso é o uso do nosso tempo como professores. Muitas vezes, no semestre passado, não conseguia ler um texto do PEAD na íntegra, pois precisava preparar aulas, me deslocar, dar aulas e ainda ler todo o material proposto e dar minha contribuição, enfim, foi um semestre muito estressante. Nesse semestre estou mais tranqüila, tenho tido mais tempo e, portanto, consigo ler os textos. Tenho refletido muito, tenho tido uma luta interna com todos os referenciais que tinha. Hoje estou refazendo meu posicionamento diante das idéias de tantos pensadores, enfim, estou em uma contradição enorme com meus pressupostos. Acredito que tudo isso tem acontecido devido às leituras, às discussões, enfim, não sou mais a mesma pessoa.
- Fiquei pensando no nosso sistema capitalista, baseado na economia de mercado, na qual o objetivo principal é o lucro e, portanto, o acúmulo de capital. Há como fugirmos disso? Segundo Marx e Mészáros sim, como a colega Mara coloca muito bem, “Trabalho, Estudo e lazer são uma constante, confundindo-se mesmo em sua prática e fim. Esse mundo utópico traduz o que Marx tentou preconizar quando afirmou que cada classe precisa educar os seus conforme sua especificidade e ideologia, deixando a parte técnica e de conteúdos para a instituição escolar que deve ser gratuita e mantida com as rendas advindas dos impostos e taxas recolhidos pelo estado.Mészáros nos informa que as multinacionais cada vez mais investem na formação e lazer de seus operários como forma de garantir uma produção de qualidade e Marx mesmo, nos esclarece que o tempo livre e a dedicação do indivíduo para uma tarefa prazerosa e sem compromisso com o mercado e o capital lhe permitem a formação da criatividade e um melhor desempenho de suas aptidões que retorna à própria sociedade”. Nos sugerem uma saída através da educação, da informação. Sendo assim, entendo que a única maneira de conseguirmos sair dessa lógica capitalista é tentarmos sensibilizarmos a população quanto aos seus direitos. A partir disto é possível que haja uma conscientização do quanto o conhecimento nos dá autonomia. Autonomia de escolhermos o que é melhor para o nosso futuro e das futuras gerações.
- Seguindo em minhas reflexões, comparei a realidade brasileira com países da Europa e cheguei a mais um questionamento – por que lá, mesmo com uma economia baseada no capitalismo, a desigualdade é menor? Então, concluo que há como coexistir capitalismo e classe trabalhadora. Na verdade a palavra classe tem me incomodado muito, pois como é possível falarmos em igualdade de direitos enquanto houver “classes”? Voltando a questão da desigualdade, acredito que no momento que a pessoa tem consciência de seus direitos como cidadão ela se torna mais crítica e, por certo, mais exigente. Portanto, acredito que esse é o caminho, por mais utópico que seja como diz a colega Mara.
- Outro aspecto que me deixou um tanto intrigada, pois me parece um tanto contraditório foram as seguintes colocações no texto de Bonilha em relação à Marx:
“Não seria ensinada a filosofia, a religião e nem economia política”.
“Nas escolas seriam ensinadas as diversas tecnologias – seus princípios científicos...”
- Não concordo em não ensinar filosofia em nossas escolas, o exercício do pensar é fundamental. Além disso, como não mencionar algo sobre economia política? Estaríamos alienados ao mundo que vivemos. Acho fundamental contextualizar e, principalmente, questionar sobre a forma como as relações de poder estão instituídas no sistema capitalista. Compreendo que Marx nos coloca uma situação hipotética, mas precisamos ser mais realistas.
Em relação ao ensino de diversas tecnologias através dos seus princípios científicos, devo lembrar o quanto o cientificismo está ligado à visão cartesiana datada dos séculos XVII a XIX. Onde a razão prevalece em detrimento da intuição. Hoje, as tecnologias se apropriaram da ciência como sustentáculo do capital. Os tecnocratas fazem uso da tecnologia para criar um mercado dependente, tendo em vista o consumismo indiscriminado. Entendo as colocações de Marx como uma visão romântica, até mesmo porque naquela época não se tinha idéia da catástrofe mundial que nos assola hoje. Parece que hoje a configuração da nossa sociedade nos reporta mais a um Neo-malthusianismo.
- Portanto, acredito em nossas intervenções, como educadores, como essenciais no sentido de concretizarmos uma mudança mais efetiva no mundo que queremos construir. Um mundo com mais igualdade, sem preconceitos e com mais autonomia. Não há como ser livre sem conhecimento.
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